segunda-feira, 27 de abril de 2015

Cenas dos últimos capítulos

Nos últimos episódios da vida de minhas retinas tão fatigadas vimos que...

Não é uma boa idéia me deixar escolher a cor de capinhas de celular. Ok, não é uma boa ideia me deixar escolher coisas coloridas em geral.  Eu fico maravilhada com todas aquelas cores e quero tudo. Aí compro em todas as cores (nunca uma boa ideia) ou passo eras pra escolher uma só. Meu pai aprendeu essa lição quando eu tinha 15 anos e ele achou que seria uma boa me acompanhar nas compras de roupas pra festas de fim de ano. Digamos apenas que ele não me acompanha nem no supermercado hoje em dia.
******
 Passei um mês pesquisando antes de decidir qual celular comprar. 

****** 
Fiz um pôster científico sozinha. Eu quero dizer, fiz todo o design do negócio. Do zero. Com direito ao uso de um software até então desconhecido (Inkscape) e manipulação de imagens. Sério Daiana, século 21 que tem demais isso? Que eu fiz isso tudo usando mousepad. VRÁ. Na cara da sociedade que zomba da minha 'falta de habilidades motoras'. Minhas mãos estão destruídas? Estão. Tô morta de cansaço depois de 48 horas trabalhando direto nisso quase sem descanso? Tô. Jurei que da próxima vez vou começar bem antes do deadline? Claro que sim, mas a quem estamos querendo enganar? O que importa é que o simples fato de ter concluído algo é muito satisfatório.

******
Não ria de Murphy. Acredite, num primeiro momento pode parecer maravilhoso gargalhar porque conseguiu quebrar uma das leis do azar. Contudo, isso significa apenas que o azar vai voltar em dobro em uma situação mais propicia. Ao azar, não a você. Tudo começou quando...

'efeito de fumaça que precede flashbacks
'
... numa primaveril e ensolarada manhã de sábado estava eu prestes a iniciar o desjejum. A caneca de chá estava na mesa de cabeceira no meu lado esquerdo e o prato com pão do lado direito em cima da cama. Entre eu e o Alex. Eis que quando peguei o pão no prato o Alex acidentalmente bateu no meu braço e o pão caiu em cima da cama. COM O LADO DA MANTEIGA PRA CIMA. Eu tive uma crise de risos de pelo menos 15 minutos e ainda falei 'toma Murphy, na sua cara!'. Alex sugeriu que isso seria um bom auspício pra tarefa de fazer o pôster que eu havia planejado para o final de semana. Mal sabíamos os bons auspícios que desafiar as leis de Murphy e rir dele trazem...

'acaba o flashback'

Na manhã de segunda eu estava prestes a terminar o pôster quando Murphy resolveu mostrar quem é que manda nesta budega. Faltava apenas inserir as referências. Até mesmo os agradecimentos eu já havia incluído. Tava salvando mais que xexus, praticamente após cada frase. O que poderia acontecer neste momento final em que você precisa imprimir o trabalho em menos de meia hora? O programa poderia travar, não? O notebook inteiro poderia resolver dar xilique e parar de funcionar por esses exatos 30 minutos. Infinitas são as possibilidades da merda acontecer. Xinguei o note, o Murphy, as norns, a vida, o universo e tudo mais. O troco - não - voltou - a - funcionar. Eu já nem choro mais nessas horas. Só olho em desalento e espero. Mas dessa vez a merda foi caprichada...

Quando finalmente o note resolveu que de repente funcionar no era má ideia, eu abri o Inkscape novamente. A ultima versão salva. E adivinhem? Tinha sumido todo o texto. As imagens pairavam lá naquele espaço em branco como sentindo-se traídas e abandonadas por suas até então companheiras palavras. Como eu mei que já manjo dessas malandragens, eu tinha salvo o texto em um arquivo de word. 
Oh yeah, Unagi!
Obviamente que não parou por aí. O note tava nessas vibe rebelde  'quem sou?', 'pra que sirvo?', 'por que tenho que trabalhar pra você humana?', 'nom vou fazer nada até descobrir' e travou apenas mais cinco vezes. Parte da dor nas minhas mãos se deve ao cmd+S (sim, mac gente). E cada vez que eu abria o programa tinha um easter egg do mal. O texto sumiu mais duas vezes - adotar salvar no word pra vida, algumas imagens desapareceram, a formatação cagou TODAS as vezes. No final, o pôster que deveria estar impresso as 11 da manhã ficou pronto as 4 da tarde. Consegui lidar de forma muito equilibrada com a situação toda meaning não me descabelei nem nada. E quem não chamaria o notebook de cretino em um momento desses, não é mesmo?

O Alex diria que tudo se deveu ao fato de o programa estar pesado por causa das muitas imagens e o note tava morrendo porque trabalhamos por um longo período. Quem quer saber dessas explicações lógicas? Eu prefiro a minha versão engraçadinha dos fatos. Guardem a lógica para coisas importantes. Como provar a 'inexistência' de espíritos e fantasmas, por exemplo.

São essas as estripulias da semana ou do final de semana pra ser mais exata. Tô escrevendo, em passos de tartaruga, um post sobre coisas interessantes sobre Exeter pra vocês.  Como a ponte que levou 800 anos pra ser consertada. Essas coisas.

quarta-feira, 22 de abril de 2015

Gêmeos do Mal ou como me tornei uma viciada em livros

Eu sou dominada pelos gêmeos do mal perfeccionismo e procrastinação. Junto com eles vem a tríade do amor (nops): culpa, angustia e ansiedade. Desde a mais tenra idade eu sempre preferi fazer qualquer coisa menos o que eu pre-ci-sa-va, porque se for pra fazer tem que ser perfeito. Logo, em 28 anos eu desenvolvi técnicas muito sofisticadas de procrastinação.

Quando criança só pensava em ser bandido ao invés de fazer os deveres de matemática eu lia quadrinhos de faroeste, atlas de geografia mundial desatualizados, livros didáticos mil, manual de informações sobre esquistossoma mansoni ou basicamente livros sobre tudo menos matemática. Minha mãe é professora e somos seis filhos, sempre tivemos muito material pra procrastinar muitos livros didáticos em casa.

Aos 10 anos eu descobri a biblioteca de Ourém e que eu podia pegar livros emprestados lá. Muito rapidamente a matemática foi trocada pelos quadrinhos do Zé Carioca, da turma da Mônica, do Pato Donald, Mickey a toda a turma da Disney, eu li até mesmo as histórias da barbie... depois eu passei para os clássicos da literatura brasileira e mundial. Eu me apaixonei pelo Jorge Amado, Machado de Assis e Nelida Piñon, entendi metade de Hamlet, entendi NADA de Objecto Quase (14 anos gente, malzaê). Só parei quando terminei o ensino médio e mudei pra Belém.
Lá pelos 13 energia elétrica e o mundo maravilhoso da televisão chegaram onde a gente morava pra competir com os livros, mas só funcionava entre 6 e 10 da noite, tinha bastante tempo pra leitura.

17 anos, morando com a minha avó. Eu passava pelos menos 4 horas seguidas estudando pro vestibular. Nas demais eu lia as revistas Cláudia (argh!), Isto é (blergh!)e Readest Digest (anh) pra não ter que continuar estudando. Olha o que educação formal faz com as pessoas! A televisão também era uma grande ferramenta de procrastinação.

Nos negros anos da graduação eu mal tinha tempo pra ler o textos das aulas, não sobrava muito pra procrastinar. Me tornei um tanto produtivista e comecei a fazer faxina sempre que não queria estudar, uma maravilha. Louca da limpeza total.
Durante o mestrado piorou. Rolava o combo da alegria: limpeza + leitura (majoritariamente HQs) + televisão + insônia = crise renal e ansiolíticos (porque não?).

*******
2014. Exeter. Já falei dos essays semanais e dos pesadelos. Os essays precisavam ser perfeitos. Criei uma nova forma de procrastinar: exercícios físicos. Eu corria, nadava, fazia yoga e breakdance. Alguns dias tinha yoga pela manhã, corrida e breakdance no final do dia. Decidi manter só o break 3 vezes por semana. Eventualmente faço yoga também. Incluí filmes, séries e textos de internet sobre política e feminismo na lista de i rather do than study/work.
Mas nas últimas semanas eu atingi o que acredito ser o ápice da procrastinação: estou aprendendo química pra evitar botânica. QUÍMICA! Eu vinha sendo bastante disciplinada. Três artigos por dia. Escrevendo diariamente por duas horas. E aí quando eu percebi estava desenhando a estrutura química do ácido silícico e checando no google se estava certo. Estava, by the way. E por quê? Porque eu deveria estar lendo sobre a fisiologia das plantas e o processo de formação de fitólitos (sim, é tão empolgante quanto parece). 

Agora que tô consciente que passei a vida estudando pra não estudar tá rolando uma inception de culpa que não sei aonde vai parar. Só pra vocês saberem o motivo, caso eu volte desse doutorado batendo menos das bolas do que antes.
Fiz alguns workshops sobre escrita acadêmica e recomendaram escrita livre pra limpar a mente. E acabei de ler um capítulo inteiro sobre morfologia de fitólitos. Tinha que parar e colocar todos esses pensamentos pra fora pra poder voltar a ler/escrever sobre plantas.


terça-feira, 14 de abril de 2015

Problemas de Primeiro Mundo

[Trigger warning]: Senta que lá vem mimimi

Em um ano e meio morando em Exeter eu aprendi:
- a amar essa cidade;
- a tomar chá com leite, mel e limão. É uma delícia gente, juro;
- a tomar 7 pints de cerveja sem ficar bêbada;
- a comer cuzcuz como se fosse farinha de mandioca;
- a reclamar de TUDO. Porque os britânicos europeus amam reclamar e achei que era de bom tom entrar na vibe. Tá nublado? Ai que ódio desse céu cinza e desse frio! Tá ensolarado? Ai que ódio desse céu azul... mentira, eu amo muito dias ensolarados com céu azul, mas eu reclamo de calor quando faz 15 graus;
- aprendi principal e rapidamente a viver com qualidade meaning serviços que funcionam. Logo, toma reclamação quando alguma coisinha não sai como deveria;
******
Pegar ônibus depois das 19h é uma missão. Já fiquei na parada por mais de uma hora e nada. Ok, super comum no Brasil, todos estamos habituados a isso. Descobri que o normal é os ônibus circularem de 15 em 15 minutos até as 19h e depois passam de 1 em 1h dependendo da linha. Como Murphy não brinca em serviço a linha que passa em frente a nossa casa para de circular as 19h. Moramos a 20 minutos de caminhada do centro da cidade. Voltar de lá andando é tranquilo, mas ir a lugares mais distantes dá mais trabalho. Sempre se pode pegar um taxi...

Até as 11 da noite você liga para alguma companhia e o taxi chega o mais rápido possível. Após 11 já passei uma hora tentando contatar qualquer companhia. Eu tinha que pegar o trem à 1:06. Dificilmente trens/ônibus atrasam a saída. Fui andando até o centro onde fica o ponto dos taxistas independentes porque nenhuma companhia atendeu; já fiquei na chuva por 40 minutos esperando o taxi que chegaria em 10...ligando pra companhia e reclamando, claro.
Também já entrei em pubs pra tomar um pint enquanto a chuva passava, pois todos os taxis estavam ocupados. Reclamei? Não, nesse caso foi mais pegue os limões e faça uma limonada versão bêbada.
Um pint
******
Os deliveries funcionam entre 18h e 11h. Exceto pizza, pela minha experiência funciona até 1 da madrugs. Durante o dia alguns restaurantes vendem comida pra levar. Ou seja, você vai buscar sua comida. Comer no restaurante às vezes não é uma opção, pois eles não tem permissão do conselho municipal para servir comida no local. Apenas para vender. Esse problema resolve-se facilmente indo até um supermercado e cozinhando a própria comida. Mas e quando você tem tempo de menos ou preguiça de mais?

****** 
Emergências de hospital: estive uma vez quando comecei a andar de bicicleta na cidade. Fiz confusão no sinal e dobrei para a direita, um carro que vinha do lado oposto bateu no pneu da frente da Julieta (minha bike) e eu caí. Curiosamente era um taxista, quando você não quer eles aparecem. Não fiquei super machucada, mas o motorista fez questão de me levar na emergência pra se certificar que eu estava bem. Tive um atendimento delícia de uma enfermeira super grosseira que mal olhou a minha perna batida e me mandou de volta pra casa. O comentário do taxista? Hospital público é assim mesmo vai no da universidade que é privado amanhã. Um beijo Brasil! E sim, tinham pelo menos 50 pessoas esperando para ser atendidas por uma enfermeira e um médico na emergência as 9 da noite. Contudo, imagino que por mais demorado que seja o atendimento, não deve ser usual pessoas morrerem na fila esperando.  
*****

Uma notícia chocante: os pubs fecham as portas as 11 da noite. Se você já estiver dentro pode ficar até meia noite quando será expulso convidado a se retirar. Alguns tem permissão pra funcionar até as 3 da madrugs. O lance é saber quais. Depois disso vá a clubs ou vá para casa. Em compensação os pubs abrem pela manhã e em geral as pessoas começam a beber por volta das 5 da tarde. 

Exceto se você estiver em Londres. Voltando de um show que acabou com 4 horas de atraso. Perdendo o ônibus de volta por causa do atraso do show, mesmo tendo comprado a passagem para 3 horas depois do show (true story). Na impossibilidade de voltar pra casa você tenta o primeiro pub. Fechado. Depois de 5 tentativas te dizem que no West End os pubs ficam abertos após meia noite. Você anda até lá e descobre que: nah, fechados. Acaba em um club que fecha as 2 e cobra 8 rainhas por um pint. Tentando encontrar um lugar quetinho você é barrada até mesmo num cassino, pois está bêbada. Parenteses: nessa saga toda eu tinha tomado apenas um pint, ficar bêbada com um pint? Jamais! Mas me banharam de cerveja no show, obrigada fãs do Artic Monkeys; Dormi bem destruída numa cadeira metálica na estação de trem Victoria...eu também já dormi no chão da estação de ônibus de Victoria pra vocês verem a vida de glamour que levo na zoropa e como Murphy me ama!

******
Posso resumir tudo em: a vida funciona bem de boas até as 11 da noite, depois disso vá dormir. São pequenos acontecimentos que aborrecem volta e meia, mas que me fazem rir quando percebo o quanto estou sendo ridícula. 

quarta-feira, 8 de abril de 2015

O Home Office

O meu ex-housemate estava se mudando da antiga casa. Não o James, eu mudei de casa durante o verão do ano passado. Fui dividir casa com o pessoal o break. Enfim, ele estava se mudando e doando móveis que não podia levar para a nova casa.
Aceitei um desk, uma penteadeira e um criado mudo. Eu já estava planejando comprar um desk pra fazer um home office. Porque moramos a 10 minutos de bicicleta da uni, mas tem dias que prefiro trabalhar em casa. Quase todos os dias, já que ainda não comecei a trabalhar no laboratório e sempre penso que se for pra ler e escrever posso ficar em casa. E eu sempre leio e escrevo, foi assim que terminei de editar meu livro ano passado, escrevi dois capítulos para outros livros e dois capítulos da tese. Acabo de realizar que sou até bem produtiva em casa. Contudo, ultimamente eu estava trabalhando sentada no sofá ou na cama. Resultando em deliciosas dores na costas.Digressiono.
Semana passada ele veio trazer os móveis. O criado mudo e a penteadeira vierem montados. O deck veio em partes. Sem.o.manual.  E as últimas partes ele trouxe ontem a noite. Hoje logo cedo resolvi encarar a tarefa de montar o quebra-cabeças.
Diria que me saí bem. O Mon Cher só me ajudou no final quando um parafuso se recusava a ficar no lugar. Tava certo ele, pois eu estava desparafusando. Resumindo: tamos aí com um home office lindinho. Adeus dor nas costas!

******
A penteadeira tá fazendo as vezes de bookshelf e bar. Pois eu não tenho, nem quero ter, roupas suficientes pra encher o guarda-roupas, as gavetas da cama e a penteadeira. E sempre posso gastar com livros e álcool o que poupo em roupas XD.
O criado mudo tá guardando minhas bijus, maquiagens e produtos de beleza. Porque sim, louca dos cremes atacou ano passado e tenho mais hidratantes do que corpo pra usar.

******
Em temas não relacionados: eu amo a primavera em Exeter! Tá cheio de margaridas na frente de casa. Os dias estão ensolarados e mais longos. O céu está azul. Eu saio de casa só com um moletom por cima da camisa. Sem morrer de frio. Ouvi um amém?