segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

O HOUSEMATE

Meu housemate se chama James, nascido em Oxford está em Exeter pra fazer pós-graduação em literatura. É professor. Dá aulas pra crianças de 4 a 11 anos. Gosta de música clássica, Amy Winehouse, rock dos anos 50 e vez ou outra ouve swing jazz. Toca violão. Cozinha maravilhosamente bem. Tem como não amar? Tem. Pergunte-me como.
Como eu disse no post anterior eu odiei ele. Esqueci de mencionar que odiei no primeiro segundo em que ele grunhiu qualquer cumprimento incompreensível pra mim. No dia que cheguei. Depois de 29 horas viajando. Sob efeito do jet lag. Ele me cumprimentou amigavelmente, me deu boas vindas e disse alguma coisa que nunca saberemos. Eu voltei pro meu quarto e apaguei imediatamente. Próxima vez que o vi foi no sábado pela manhã (cheguei na quinta à tarde e bem que gostaria de ter dormido por 48 horas, mas existe uma coisa chamada burocracia com a qual eu tinha que lidar).
James toca violão. Aos sábados. Às 7:30 da manhã. Ame-o se for capaz! E gosta que sua música invada todos os cômodos da casa. Ao menos ele tem bom gosto musical, mas isso não adianta muito quando o que eu preciso é silêncio pra estudar. Por sinal, no mesmo sábado ele achou que seria de boas fazer uma festinha na casa, sem me consultar/convidar. Um doce, não?
James viajou por duas semanas pra dar aulas em uma cidade vizinha. Foi o paraíso. Exceto aquele dia em que eu tranquei a porta de entrada da casa e ela abriu sozinha, essa parte não foi legal. Ainda tento me convencer de que fechei errado, mas tem essa coisa de que eu sou písica com janelas e portas e SEMPRE checo se estão trancadas antes de dormir. Esse é um pequeno preço a se pagar pelo silêncio nos sábados de manhã. Mas o mate voltou. Agora pra ficar...la, la, la.
E depois que ele voltou, começou a tortura parte dóis: o desgraçado cozinha que é uma maravilha, inunda a casa com o delicioso aroma de sua comida. E. não. compartilha. Não, eu não espero que ele cozinhe pra mim, mas que custa oferecer? Cadê educação inglesa? Eu fico aqui, comendo minhas gororobas enquanto ele come aquela comida deliciosa. Sim, eu sei que é deliciosa porque ele tem o péssimo hábito de não guardar o resto da comida e sai de casa deixando aquela coisa cheirosa no fogão. Claro que eu não me sirvo da comida dele, mas pego um pouquinho na mão pra experimentar. Não façam isso em casa! hahaha!
Outro péssimo hábito dele é não jogar o lixo fora. Passamos uns bons 15 dias numa batalha psicológica pra ver quem cedia primeiro e jogava o raio do lixo. Adivinhem quem fui ao supermercado comprar sacos de lixo novos e trocar? Vejam bem, eu estava me recusando por motivos de: cheguei na casa e os cestos já estavam entupidos, por que eu teria de lidar com isso?
Todos concordam que eu tenho motivos de sobra pra odiar James, certo? Mas vamos dividir a casa por pelo menos seis meses (que é a duração do meu contrato) e entrei nas vibe de aproveitar a oportunidade, a realização do sonho, o mundo encantado de Alice, opa, exagerei aqui. Enfim, achei que seria um bom desperdício de vida ficar irritada com um cerumano por seis meses. De modos que decidi interagir com o mate. E não foi meu notebook interagindo com a cabeça dele como eu fantasiei algumas vezes. Foi puxar assunto enquanto ele cozinhava. Sim, com a vã esperança de que ele me oferecesse ao menos uma prova (hehehe interesseira). Resumo da ópera, ficamos amigos. Ele quer que eu seja madrinha do casamento dele, opa, viajando de novo.
Não viramos amigos, mas estamos convivendo amigavelmente. Eu disse a ele que tudo bem tocar violão, até porque ele toca bem, mas que seria muito legal se não fosse aos sábados/domingos pela manhã. E ele disse que quando tiver incomodando é só avisar que ele para e se ofereceu pra me ensinar a tocar! No último findi ele deu outra festinha, mas me perguntou se estava tudo bem e até propôs cancelar porque eu estava resfriada e com febre. Eu disse que tudo bem ele fazer a festa e até bati papo com os amigos dele, eles tomando cerveja e eu chá de limão com mel e alho, mundo cão. Revezamos pra jogar o lixo fora. Mantemos a pia um caos e a cada três dias um dos dois toma coragem pra lavar toda a louça, e a próxima vez é do outro. Eu adoraria dizer que negociamos isso, mas é meio que um acordo tácito. Ele só ainda não me ofereceu comida (o que acho um ultraje! hahaha), mas eu cozinhei o meu frango com batatas e ofereci pra ele provar. Vamos ver se o estratagema surte o efeito desejado hahahaha! 
Seria muito interessante saber o lado dele da história, mas não sei se ele tem um blog ou coisa assim. Ou seja.
Petitinha, a housemate.   

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Onde paramos? Ah, sim...retomando!

Os  abigos
Eu chorei. Não quando me despedi dos amigos queridos, das irmãs e do marido no portão de embarque. Não! Eu tinha decidido que ali não ia chorar, não ia transformar aquele momento em tristeza. Tampouco chorei nas duas horas seguintes esperando o embarque. Eu caí no choro quando o avião decolou e vi minha amada Belém ficando pra trás. E fui chorando até Paramaribo, a primeira escala.

Eu não estava chorando unicamente pela cidade, mas pelo que ela representa. Vivi por dez anos em Belém. Minha história está nas suas ruas. Os mais felizes e os mais assustadoras momentos (os assaltos). Eu chorei pela minha família, os amigos, as minhas gatas e, craaaaaru, pelo meu marido. E principalmente por mim, que jamais serei aquela pessoa que partia. Eu que não encontrava esse sentimento desde os 17 anos, mas já o conhecia. Eu o vivi quando saí da casa dos meus pais pra viver em Belém em 2003, aquela viagem eu fui de ônibus me despedindo de todas as paisagens e de todas as imagens que me eram familiares até ali. E as lágrimas correram igualmente pelo meu rosto. Numa despedida ao mesmo tempo feliz e dolorosa. Aquela partida significava sair da zona de conforto e confrontar o desconhecido. Essas bunitas aí na foto comigo são azirmã, apenas não sei como alinhar legenda e texto, malzaê!


Mon Cher!
O desconhecido me assusta (e a quem não?), mas eu sei que mesmo a um oceano de distância eu sempre terei apoio! E da mesma forma que eu me reinventei aos 17 eu farei aos 27. Eu tô longe de todos, mas eu escolhi isso. Eu sonhei, desejei com todas as forças, passei o ultimo ano tentando fazer isso se tronar realidade. Agora é viver isso e extrair cada gota de experiência disso! O choro me purificou e me deixou pronta pra porrada!
Eu odiei os três primeiros dias em Exeter. O frio, o vento, o housemate. Tudo! Eu sentia falta do Mon Cher, dos meus amigos, das minhas irmãs e das minhas gatas. Daí eu comprei roupas adequadas pro frio e superei o jet lag!
Eu ainda morro de saudades de todos, fico vendo nossas fotos e relendo nossas conversas doidas TODOS os dias, mas não sinto tristeza. Sinto alegria por conhecer tanta gente que merece o meu carinho e a minha saudade! Um beijo a todos!

Petitinha, a chorona.