Meu housemate se chama James, nascido em Oxford está em Exeter pra fazer pós-graduação em literatura. É professor. Dá aulas pra crianças de 4 a 11 anos. Gosta de música clássica, Amy Winehouse, rock dos anos 50 e vez ou outra ouve swing jazz. Toca violão. Cozinha maravilhosamente bem. Tem como não amar? Tem. Pergunte-me como.
Como eu disse no post anterior eu odiei ele. Esqueci de mencionar que odiei no primeiro segundo em que ele grunhiu qualquer cumprimento incompreensível pra mim. No dia que cheguei. Depois de 29 horas viajando. Sob efeito do jet lag. Ele me cumprimentou amigavelmente, me deu boas vindas e disse alguma coisa que nunca saberemos. Eu voltei pro meu quarto e apaguei imediatamente. Próxima vez que o vi foi no sábado pela manhã (cheguei na quinta à tarde e bem que gostaria de ter dormido por 48 horas, mas existe uma coisa chamada burocracia com a qual eu tinha que lidar).
James toca violão. Aos sábados. Às 7:30 da manhã. Ame-o se for capaz! E gosta que sua música invada todos os cômodos da casa. Ao menos ele tem bom gosto musical, mas isso não adianta muito quando o que eu preciso é silêncio pra estudar. Por sinal, no mesmo sábado ele achou que seria de boas fazer uma festinha na casa, sem me consultar/convidar. Um doce, não?
James viajou por duas semanas pra dar aulas em uma cidade vizinha. Foi o paraíso. Exceto aquele dia em que eu tranquei a porta de entrada da casa e ela abriu sozinha, essa parte não foi legal. Ainda tento me convencer de que fechei errado, mas tem essa coisa de que eu sou písica com janelas e portas e SEMPRE checo se estão trancadas antes de dormir. Esse é um pequeno preço a se pagar pelo silêncio nos sábados de manhã. Mas o mate voltou. Agora pra ficar...la, la, la.
E depois que ele voltou, começou a tortura parte dóis: o desgraçado cozinha que é uma maravilha, inunda a casa com o delicioso aroma de sua comida. E. não. compartilha. Não, eu não espero que ele cozinhe pra mim, mas que custa oferecer? Cadê educação inglesa? Eu fico aqui, comendo minhas gororobas enquanto ele come aquela comida deliciosa. Sim, eu sei que é deliciosa porque ele tem o péssimo hábito de não guardar o resto da comida e sai de casa deixando aquela coisa cheirosa no fogão. Claro que eu não me sirvo da comida dele, mas pego um pouquinho na mão pra experimentar. Não façam isso em casa! hahaha!
Outro péssimo hábito dele é não jogar o lixo fora. Passamos uns bons 15 dias numa batalha psicológica pra ver quem cedia primeiro e jogava o raio do lixo. Adivinhem quem fui ao supermercado comprar sacos de lixo novos e trocar? Vejam bem, eu estava me recusando por motivos de: cheguei na casa e os cestos já estavam entupidos, por que eu teria de lidar com isso?
Todos concordam que eu tenho motivos de sobra pra odiar James, certo? Mas vamos dividir a casa por pelo menos seis meses (que é a duração do meu contrato) e entrei nas vibe de aproveitar a oportunidade, a realização do sonho, o mundo encantado de Alice, opa, exagerei aqui. Enfim, achei que seria um bom desperdício de vida ficar irritada com um cerumano por seis meses. De modos que decidi interagir com o mate. E não foi meu notebook interagindo com a cabeça dele como eu fantasiei algumas vezes. Foi puxar assunto enquanto ele cozinhava. Sim, com a vã esperança de que ele me oferecesse ao menos uma prova (hehehe interesseira). Resumo da ópera, ficamos amigos. Ele quer que eu seja madrinha do casamento dele, opa, viajando de novo.
Não viramos amigos, mas estamos convivendo amigavelmente. Eu disse a ele que tudo bem tocar violão, até porque ele toca bem, mas que seria muito legal se não fosse aos sábados/domingos pela manhã. E ele disse que quando tiver incomodando é só avisar que ele para e se ofereceu pra me ensinar a tocar! No último findi ele deu outra festinha, mas me perguntou se estava tudo bem e até propôs cancelar porque eu estava resfriada e com febre. Eu disse que tudo bem ele fazer a festa e até bati papo com os amigos dele, eles tomando cerveja e eu chá de limão com mel e alho, mundo cão. Revezamos pra jogar o lixo fora. Mantemos a pia um caos e a cada três dias um dos dois toma coragem pra lavar toda a louça, e a próxima vez é do outro. Eu adoraria dizer que negociamos isso, mas é meio que um acordo tácito. Ele só ainda não me ofereceu comida (o que acho um ultraje! hahaha), mas eu cozinhei o meu frango com batatas e ofereci pra ele provar. Vamos ver se o estratagema surte o efeito desejado hahahaha!
Seria muito interessante saber o lado dele da história, mas não sei se ele tem um blog ou coisa assim. Ou seja.
Petitinha, a housemate.