quinta-feira, 28 de abril de 2016

Etcetera e os Exeterianos

Em Exeter acontecem as coisas mais loucas, tipo eu aprender estruturas químicas, entender botânica e agora estamos no maravilhoso universo da eletronegatividade dos fitólitos flertando ali com a física quantica. Beijos interdisciplinares!
Mas voltando às loucuras de Exeter. Existe toda uma maravilhosa história de construção da Catedral de São Pedro em Exeter, que começou em 1050 e terminou em 1400. Porém, ela vai se juntar a história da ponte que eu prometi à mais de um ano...
Porque o ponto de hoje são as coisa loca que rolam por esta redondeza. E passa que a Catedral faz parte de algum joguinho macabro de ilusão de ótica. Em torno da Catedral tem um gramado e vários pubs e cafés, é um ponto de encontro como o CAN em Belém. Imagine que você está a oeste da Catedral, resolve ir até o gramado tomar um pint café. Você anda em direção ao oeste...para descobrir que na verdade a Catedral agora encontra-se a leste. Novamente você vai em direção à catedral, dobra uma esquina e...está na direção oposta! Depois de um tempo a gente já sabe as rotas certinhas que levam até lá, mas vai se perder um monte antes. Sempre rimos dos turistas perdidos na High Street aos sábados reclamando que não acham a Catedral (sim, a gente ri. Nos julguem).
Lateral da Catedral com a estátua mal assombrada que já foi vista passeando pela noite de Exeter. Provavelmente por um Exeteriano. E vista de frente fazendo a gótica...


Maps com a rota mais rápida da nossa casa até a Catedral, não é a primeira recomendada pelo gugol. 

Moramos ali perto da esquina da Old Tiverton com a Union Road. O maps travou o GPS na esquina da Victoria Street porque lá fica o Vic's onde a gente vai uma semana sim e a outra também, conhecemos até o cachorro do dono do pub já...
Digressiono. Nessa rota a mesma rua muda de nome várias vezes: Old Tiverton-Sidwell Street- High Street (tipo a Tamandaré-Gama Abreu-Nazaré-Magalhães Barata) e passando a Catedral muda para Fore Street...
Os Exeterianos em geral encontram-se na Sidwell Street e na High Street. Chamamos eles assim porque pessoas loca. É comum passar por ali e ter algum gritando coisas sem sentido em alguma esquina.
Meu primeiro contato com um Exeteriano ocorreu na fila do supermercado na Sidwell Street. O sujeito estava em uma discussão acalorada que eu julguei ser via celular. Na vez dele no caixa ele começou a fazer movimentos como que limpando as mão enquanto balbuciava algo incompreensível para o nada. A cara da atendente no caixa era impagável!
Meses depois voltávamos pra casa a noite na High Street quando vimos uma moça deitada no chão embaixo de um desses  banco de praça. Ela gritava com o banco...
Em abril de 2015 eu passava na Sidwell quando um sujeito veio correndo e gritando na minha direção, jogou algo na minha cara e continuou correndo. Eu consegui me esquivar. Não sei o que era porque logo em seguida veio uma moça gritando com ele e quase me derrubou. So much for the British politeness. O terceiro membro do grupo passou por mim na maior das calmas, apenas me olhou com estranheza e seguiu.
.....  

Hoje, depois de alguns meses sem eventos estranhos e/ou encontros com Exeterianos - a Catedral mudando de lugar já é normal - tivemos uma concentração deles. Saímos da Uni as 4:30. Ainda no campus vimos ao longe duas pessoas cercando um pato. Nosso primeiro pensamento foi que eram asiáticos pegando o jantar (vamos pro inferno, eu sei). Mais de perto percebemos que: eram dois europeus tentando capturar dois marrecos. Por que? Bem, não existem muitos porquês em Exeter. Aconteceu, só isso. Os marrecos estavam encurralados num canto entre um prédio e um muro. Sabe aquela história que pato nem anda, nada ou voa direito? Pois marrecos voam muito bem, obrigada. E o grito de um dos "captores" quando os bichos começaram a voar e cara vermelha dele me fizeram chorar de rir. Especialmente porque eu assisto Irmão do Jorel. Aliás, vejam e me agradeçam depois.


Seguimos pro Vic's e ali pela metade do primeiro pint olhamos pra fora. Chovia. Olhamos pro outro lado. Não chovia. Saí pra ver o que se passava. E chovia na Union Road até a esquina com a Victoria Street e passando a esquina não chovia mais. Simples assim. Segundo o Max Etcetera está num void, um mundo à parte tipo Lost.
Nos despedimos do Max e fomos pra casa (eu e o Alexandre). Quinze minutos depois o seguinte diálogo no face:
Max: Muita coisa loca nessa cidade hoje. Lá perto do John Lewis me salta uma pessoa vestida de gorila tentando me dar susto. 
Eu: zentchy!
Max: Na sorveteria da High Street tinha um mendigo batendo de cabeça no vidro gritando "I want ice cream!" (eu quero sorvete!). 
Eu: HAHAHAHAHAHA
Max: E tem mais. Lá perto da ponte tinham dois irmãos gêmeos vestidos iguais. Só que um todo de verde e o outro todo de rosa.
Eu: Whaaaaaaaaaaat?
Max: Ah é. E no túnel que passa por baixo da ponte tinha um carrinho de compras cheio de fraldas e uma mendiga cantava Thriller.
Eu: zentchy, posso postar no blog? Tá muito boa essa história.
Max: Pode. Mega loco, meu.

Mais um dia loco na cidade de Townsville Etcetera com uma turminha de Exeterianos à solta aprontando pra valer! (voz de narrador da sessão da tarde).

quinta-feira, 7 de abril de 2016

OS AVIÃO, OS BANHERU E AS BAGAÇA TUDO

Título alternativo: Me dêem mais cerveja!

Nas últimas 24 horas eu:

Passei por quatro cidades no mundo: Exeter-Londres-Novióqui-Orlando.
Motivo: conferência internacional da Society for American Archaeology.

Fiz strip tease pras segurança saindo de Londres (onde pegaram meu protetor solar de 113 gramas, pq só é permitido embarcar com 100 e 'COMO VC OUSA VIR COM 113g?' - ngm liga que é protetor orgânico e custou um rim), pras segurança desembarcando em  Novióqui - onde passei 15 minutos sendo entrevistada na alfândega, mesmo depois de ter pago 115 dólares + 25 libras + três horas na fila pra submeter ao visto americano em Londres. Sacumé né? Vc é uma mulher brasileira, a gente tem que garantir que nom é prostituta; fiz strip tease pras segurança EMBARCANDO de Novióqui pra Orlando, por que né, tinha passado na segurança do desembarque há APENAS 5 minutos.

Quando digo strip tease: uma camiseta+camisa xadrez por cima+jaqueta jeans+casaco pra lidar com a madrugada primaveril do UK (5 graus). Aí chega na segurança: tira casaco, "vc tem que tirar a jaqueta tbm"... e a pulseira, e a aliança, e os brincos, e os tenis... e por aí vai. Muita alegria...

...
O atendimento na companhia aérea de Londres pra Novióqui era tão lindo que me deram comida 4 vezes em um vôo de 7 horas (sim, eu avalio os atendimento em comida - me julguem). MAS, 1 - me colocaram numa fileira entre DOIS banheiros, o mínimo que podiam fazer era me dar um monte de comida e cerveja; 2 - Novióqui-Orlando: ao lado do banheiro, DE NOVO. E dessa vez as pessoas foram lá aromatizar... essa foi uma daquelas situação " vim entre banheiros. Tava fedendo, "OLHA O PRÓXIMO É NA JANELA!". Não era janela. Era turbina. O banheiro tava do lado. De novo. FEDIA... PRA CARALHO! Foi tipo "tem uma luz no fim do tunel!", era um TREM!

...
Tudo é grande neste país.  O táxi era gigante, mas o taxista desconhecia essa maravilha da humanidade chamada GPS. Enrolou por 2 horas um trajeto de 40 minutos, se perdeu, cobrou o dobro E queria gorjeta de 20 dólares. "AMIGO SOU ESTUDANTE, NÃO VAI ESTAR ROLANDO"; "MAS...". Tu se perdeu, caraleo!

...
O endereço tava errado. E o segundo taxista que levou no lugar certo cobrou o dobro. SIM, DE NOVO! O lugar certo, no caso, estava vazio e as pessoas que deveriam nos encontrar chegaram duas horas depois... Fiz a única coisa razoável na situação: achei um bar, pedi 1 litro de cerveja e mandei wazap pra dizer que tava ali e que passaria a notche com a cerveja se preciso fosse.

24h depois de sair de casa consegui um teto, chuveiro, cerveja e cama.

COMIDA, WHO CARES? BRING ME DA BEAR!

...
Tudo é fake neste país. Ou nesta parte da Flórida. Lagos, florestas, flores. Tudo artificial. Sim, já desconfiava disso.

...
Descobri que custa 120 dólares pra tirar foto do Castelo da Disney; a conferência tá manera, tá bacana: encontrei todo mundo, menos os amigos que estão vindo.
Podiam distribuir café. Acrescentaria, assim, uns 80% de aprovação à organização da conferência!
Ao invés disso é 3 dinheiros a xícara pequena de café e 8,25 300ml de cerveja ruim. Esse pessoal nom sabe agradar arqueólogo, mano.
...
Podiam instituir que todo mundo apresentasse com orelhinhas da Minie/Mickey. Se é pra fazer a conferência mais importante de arqueologia do MUNDO na Disney Wolrd vamos ao menos fazer direito!

Talvez eu tivesse algum ponto quando resolvi escrever isso, mas agora eu tô sob efeito de jet lag, cervejas e tals. Cabou coerência, entonces é isso mesmo pessoal.

Petitinha, a peridida.

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Breaking clay

- Preciso dobrar o tempo de defloculação das minhas amostras. O solo é muito argiloso e depois demora três vezes mais sedimentando.
Assim eu começo a descrever 'como anda a pesquisa' pra minha amiga advogada que estuda direitos humanos.
A resposta é uma cara muito confusa, seguida de:
- Desculpa, o que?
- As amostras ficam desfloculando por 12h em água e hexametafosfato de sódio e...
- Hexam...? O que?
Eu nem cheguei na parte mais divertida do ácido nítrico + clorato de potássio quando 'as reação mais linda acontece' e as amostras borbulham!

Minha cara de besta vendo as amostras reagindo
Talvez eu tenha passado muito tempo no laboratório durante o verão...

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

De como eu não nasci, eu cheguei fazendo cena...

[trigger warning]: too much information
Se continuarem lendo é por sua conta e risco.
Eu já contei do meu 'parto'? Mamis teve seis filhos. Eu fui a segunda. Dizem que a dor de parto é a pior de todas. Pois mamis estava grávida desta pessoinha pândega que vos escreve e teve uma dor de barriga, foi ao banheiro e quem resolveu fazer toboganzinho no vaso sanitário? TADÁ! Já nasci fazendo estripulia.
A mamis guardou essa história por 20 anos. Passou contando que o meu parto foi feito pela mesma parteira dos outros irmãos. Aí quando fiz 20 anos ela me contou? Não. Ela contou pro zirmão que prometeram nunca vazar a história e fizeram um bullying suave nimim logo em seguida. Eu zoaria também, alinhais eu rio disso sempre que lembro.
Lembrei dessa história porque mandei a foto abaixo pro Alexandre enquanto tava no break e ele disse que eu já tava de danadisse.
Fazendo Daianices desde 1986

Eu respondi que sou comportadinha, claro... aí ele me lembrou que nem na barriga de mamis eu fui comportada. Sempre fui danadinha.
E já cheguei no mundo fazendo cena cômica.

terça-feira, 1 de setembro de 2015

Das Daianices

Fomos comemorar as Bodas de algodão em uma vila aqui perto de Etcetera chamada Cockwood. Lá fica o Anchor Inn, um pub que tem 450 anos, temática marítima (naaaaão?!) e serve mariscos e o fish n' ships nosso de cada dia. Eu queria ir lá há um tempo porque amo frutos do mar e é impossibru encontrar-lhos minimamente comestíveis em Etcetera, eles custam um rim e não são frescos. E posso parecer fresca, mas a cidade fica a blooding 40 minutos da costa indo de carro! Custa ter um peixe/marisco fesquinho?
Mas esse post não é para reclamar. É para ser uma ode às Daianices.
Seguindo. Eu liguei com 3 horas de antecedência para reservar uma mesa no restaurante à luz de velas (classy). Não estava disponível, mas eles disseram que colocariam uma vela na nossa mesa. Ok. Daí a moça perguntou meu nome para pôr na reserva e eu soletrei porque aparentemente passamos minha vida inteira pronunciando meu nome errado, quedizê, da forma como escreve: D-a-i-a-n-a. Eles normalmente entendem claramente quando eu grunho D-a-a-n-a. Mas caí na besteira de soletrar. Eis que quando chegamos lá encontramos esta maravilha:
Nei soletrandu
Guiei a gente pra estação de trem errada. Na estação correta a máquina não aceitava notas de 20 queens, só de 10. Anda trocar a nota com o único funcionário na estação porque os ferroviários estavam em greve. Quando finalmente conseguimos os tickets o próximo trem estava de saida. Os trens fecham as portas 40 segundos antes de sair, vai de você arriscar sua cabeça enquanto a porta está apitando...gostamos das nossas cabeças. Esperamos meia hora pelo trem seguinte.
Enquanto esperávamos criei uma teoria muito eloquente sobre a aranha se fingindo de morta no chão da estação porque ela tinha sido jogada de sua teia por uma aranha maior. Claro que se tratava de uma guerra das aranhas e ela tava  fazendo a morta pra sobreviver. Eu juro que vi a cena da aranha maior jogando a menor, mas o Alexandre não acreditava, pois aquele ser vil jamais ficaria no meio do caminho com muito humanos passando ao lado.  Quando o trem chegou e passamos por ela vimos que 1) era mesmo uma aranha 2) ela estava viva 3) ela estava se fingindo de morta. Boom chacalaka! Sobre a guerra, eu vi a outra empurrá-la, mas o Alexandre não está convencido. Eu estava sóbria.
Chegamos meia hora atrasados no restaurante/pub.
O Alexandre passou babando pela decoração maravilhosa do lugar. O jantar estava delicioso. Alexandre descobriu que não é alérgico a ostra  - é, achamos uma boa ideia testar isso em uma vilazinha isolada na Inglaterra as 9 da noite de uma sexta feira, no nosso aniversario de casamento - what could possibly go wrong? Já dei o spoiler ali que nada deu errado.
Pegamos mexilhão de entrada. O prato principal dele foi bacalhau enrolado em beicu craru com uma tonelada de batata assada e broculis e eu peguei ostras cozidas em Chardonnay e molho de mostarda com carangejo.
Tem que, a gente ia virar abóbora à meia noite o ultimo trem passa as 11:53. A gente sabia disso? Claro que não. O trem para na estação de Starcross, a vila ao lado de Cockwood. De lá são polêmicos 15 a 20 minutos de caminhada... o Alexandre diria meia hora e eu diria que era a fome e/ou pressa que estava atrapalhando o julgamento dele. Pois bem, quando saltamos em Starcross na chegada checamos o painel com os horários dos trens e o ultimo para Etcetera era as 22:30. Logo teríamos que sair do pub às 10h para termos a margem de erro de tempo de caminhada. A equipe resolveu botar a gente numa mesa bonitinha com velas como haviam prometido, mas num cantinho reservado fora da rota dos garçons e garçonetes. Uma. maravilha. non? Conseguimos pedir a conta 9:30 e às 10h estavamos correndo pro caixa pra pagar a conta. Chegamos na estação bem a tempo de ver o trem partindo, fuén.
Fomos semi-desesperados checar o painel de novo e tchananz! Ultimo trem passava às 11:53.
Resolvemos ficar curtindo o friozinho delícia na estação já que o pub mais próximo estava fechado, vide post sobre pubs fechando cedo nas terra de Lizzy. Voltar ao Anchor Inn não animava mais nessa hora.
Lá pelas 11:15 aconteceu a melhor Daianice da noite, quissá do mês. A cabine onde estávamos esperando o trem era de vidro. Eu estava olhando na direção oposta a Exeter, de onde viria o nosso trem. Quando vejo um trem se aproximando, mas não havia expectativa de trens vindo a essa hora. Expressei toda a minha surpresa pro Alexandre e disse que achava que esse trem ia passar direto nessa estação e tals. O Alexandre foi pra fora da cabine e ficou dizendo que achava que esse trem não ia pra Exeter e eu apontando e dizendo "mas ele tá vindo!". E aí o trem passou na plataforma do outro lado... eu estava acompanhando a cena toda pelo reflexo do trem no vidro da cabine!
E a maior Daianice da história é que ano passado eu fui jantar lá com um amigo e eu fiz exatamente a mesmíssima coisa... uma vez patza, sempre patza!
Estava nessa cabine apontando pro vidro...caí no truque duas vezes!

segunda-feira, 27 de abril de 2015

Cenas dos últimos capítulos

Nos últimos episódios da vida de minhas retinas tão fatigadas vimos que...

Não é uma boa idéia me deixar escolher a cor de capinhas de celular. Ok, não é uma boa ideia me deixar escolher coisas coloridas em geral.  Eu fico maravilhada com todas aquelas cores e quero tudo. Aí compro em todas as cores (nunca uma boa ideia) ou passo eras pra escolher uma só. Meu pai aprendeu essa lição quando eu tinha 15 anos e ele achou que seria uma boa me acompanhar nas compras de roupas pra festas de fim de ano. Digamos apenas que ele não me acompanha nem no supermercado hoje em dia.
******
 Passei um mês pesquisando antes de decidir qual celular comprar. 

****** 
Fiz um pôster científico sozinha. Eu quero dizer, fiz todo o design do negócio. Do zero. Com direito ao uso de um software até então desconhecido (Inkscape) e manipulação de imagens. Sério Daiana, século 21 que tem demais isso? Que eu fiz isso tudo usando mousepad. VRÁ. Na cara da sociedade que zomba da minha 'falta de habilidades motoras'. Minhas mãos estão destruídas? Estão. Tô morta de cansaço depois de 48 horas trabalhando direto nisso quase sem descanso? Tô. Jurei que da próxima vez vou começar bem antes do deadline? Claro que sim, mas a quem estamos querendo enganar? O que importa é que o simples fato de ter concluído algo é muito satisfatório.

******
Não ria de Murphy. Acredite, num primeiro momento pode parecer maravilhoso gargalhar porque conseguiu quebrar uma das leis do azar. Contudo, isso significa apenas que o azar vai voltar em dobro em uma situação mais propicia. Ao azar, não a você. Tudo começou quando...

'efeito de fumaça que precede flashbacks
'
... numa primaveril e ensolarada manhã de sábado estava eu prestes a iniciar o desjejum. A caneca de chá estava na mesa de cabeceira no meu lado esquerdo e o prato com pão do lado direito em cima da cama. Entre eu e o Alex. Eis que quando peguei o pão no prato o Alex acidentalmente bateu no meu braço e o pão caiu em cima da cama. COM O LADO DA MANTEIGA PRA CIMA. Eu tive uma crise de risos de pelo menos 15 minutos e ainda falei 'toma Murphy, na sua cara!'. Alex sugeriu que isso seria um bom auspício pra tarefa de fazer o pôster que eu havia planejado para o final de semana. Mal sabíamos os bons auspícios que desafiar as leis de Murphy e rir dele trazem...

'acaba o flashback'

Na manhã de segunda eu estava prestes a terminar o pôster quando Murphy resolveu mostrar quem é que manda nesta budega. Faltava apenas inserir as referências. Até mesmo os agradecimentos eu já havia incluído. Tava salvando mais que xexus, praticamente após cada frase. O que poderia acontecer neste momento final em que você precisa imprimir o trabalho em menos de meia hora? O programa poderia travar, não? O notebook inteiro poderia resolver dar xilique e parar de funcionar por esses exatos 30 minutos. Infinitas são as possibilidades da merda acontecer. Xinguei o note, o Murphy, as norns, a vida, o universo e tudo mais. O troco - não - voltou - a - funcionar. Eu já nem choro mais nessas horas. Só olho em desalento e espero. Mas dessa vez a merda foi caprichada...

Quando finalmente o note resolveu que de repente funcionar no era má ideia, eu abri o Inkscape novamente. A ultima versão salva. E adivinhem? Tinha sumido todo o texto. As imagens pairavam lá naquele espaço em branco como sentindo-se traídas e abandonadas por suas até então companheiras palavras. Como eu mei que já manjo dessas malandragens, eu tinha salvo o texto em um arquivo de word. 
Oh yeah, Unagi!
Obviamente que não parou por aí. O note tava nessas vibe rebelde  'quem sou?', 'pra que sirvo?', 'por que tenho que trabalhar pra você humana?', 'nom vou fazer nada até descobrir' e travou apenas mais cinco vezes. Parte da dor nas minhas mãos se deve ao cmd+S (sim, mac gente). E cada vez que eu abria o programa tinha um easter egg do mal. O texto sumiu mais duas vezes - adotar salvar no word pra vida, algumas imagens desapareceram, a formatação cagou TODAS as vezes. No final, o pôster que deveria estar impresso as 11 da manhã ficou pronto as 4 da tarde. Consegui lidar de forma muito equilibrada com a situação toda meaning não me descabelei nem nada. E quem não chamaria o notebook de cretino em um momento desses, não é mesmo?

O Alex diria que tudo se deveu ao fato de o programa estar pesado por causa das muitas imagens e o note tava morrendo porque trabalhamos por um longo período. Quem quer saber dessas explicações lógicas? Eu prefiro a minha versão engraçadinha dos fatos. Guardem a lógica para coisas importantes. Como provar a 'inexistência' de espíritos e fantasmas, por exemplo.

São essas as estripulias da semana ou do final de semana pra ser mais exata. Tô escrevendo, em passos de tartaruga, um post sobre coisas interessantes sobre Exeter pra vocês.  Como a ponte que levou 800 anos pra ser consertada. Essas coisas.

quarta-feira, 22 de abril de 2015

Gêmeos do Mal ou como me tornei uma viciada em livros

Eu sou dominada pelos gêmeos do mal perfeccionismo e procrastinação. Junto com eles vem a tríade do amor (nops): culpa, angustia e ansiedade. Desde a mais tenra idade eu sempre preferi fazer qualquer coisa menos o que eu pre-ci-sa-va, porque se for pra fazer tem que ser perfeito. Logo, em 28 anos eu desenvolvi técnicas muito sofisticadas de procrastinação.

Quando criança só pensava em ser bandido ao invés de fazer os deveres de matemática eu lia quadrinhos de faroeste, atlas de geografia mundial desatualizados, livros didáticos mil, manual de informações sobre esquistossoma mansoni ou basicamente livros sobre tudo menos matemática. Minha mãe é professora e somos seis filhos, sempre tivemos muito material pra procrastinar muitos livros didáticos em casa.

Aos 10 anos eu descobri a biblioteca de Ourém e que eu podia pegar livros emprestados lá. Muito rapidamente a matemática foi trocada pelos quadrinhos do Zé Carioca, da turma da Mônica, do Pato Donald, Mickey a toda a turma da Disney, eu li até mesmo as histórias da barbie... depois eu passei para os clássicos da literatura brasileira e mundial. Eu me apaixonei pelo Jorge Amado, Machado de Assis e Nelida Piñon, entendi metade de Hamlet, entendi NADA de Objecto Quase (14 anos gente, malzaê). Só parei quando terminei o ensino médio e mudei pra Belém.
Lá pelos 13 energia elétrica e o mundo maravilhoso da televisão chegaram onde a gente morava pra competir com os livros, mas só funcionava entre 6 e 10 da noite, tinha bastante tempo pra leitura.

17 anos, morando com a minha avó. Eu passava pelos menos 4 horas seguidas estudando pro vestibular. Nas demais eu lia as revistas Cláudia (argh!), Isto é (blergh!)e Readest Digest (anh) pra não ter que continuar estudando. Olha o que educação formal faz com as pessoas! A televisão também era uma grande ferramenta de procrastinação.

Nos negros anos da graduação eu mal tinha tempo pra ler o textos das aulas, não sobrava muito pra procrastinar. Me tornei um tanto produtivista e comecei a fazer faxina sempre que não queria estudar, uma maravilha. Louca da limpeza total.
Durante o mestrado piorou. Rolava o combo da alegria: limpeza + leitura (majoritariamente HQs) + televisão + insônia = crise renal e ansiolíticos (porque não?).

*******
2014. Exeter. Já falei dos essays semanais e dos pesadelos. Os essays precisavam ser perfeitos. Criei uma nova forma de procrastinar: exercícios físicos. Eu corria, nadava, fazia yoga e breakdance. Alguns dias tinha yoga pela manhã, corrida e breakdance no final do dia. Decidi manter só o break 3 vezes por semana. Eventualmente faço yoga também. Incluí filmes, séries e textos de internet sobre política e feminismo na lista de i rather do than study/work.
Mas nas últimas semanas eu atingi o que acredito ser o ápice da procrastinação: estou aprendendo química pra evitar botânica. QUÍMICA! Eu vinha sendo bastante disciplinada. Três artigos por dia. Escrevendo diariamente por duas horas. E aí quando eu percebi estava desenhando a estrutura química do ácido silícico e checando no google se estava certo. Estava, by the way. E por quê? Porque eu deveria estar lendo sobre a fisiologia das plantas e o processo de formação de fitólitos (sim, é tão empolgante quanto parece). 

Agora que tô consciente que passei a vida estudando pra não estudar tá rolando uma inception de culpa que não sei aonde vai parar. Só pra vocês saberem o motivo, caso eu volte desse doutorado batendo menos das bolas do que antes.
Fiz alguns workshops sobre escrita acadêmica e recomendaram escrita livre pra limpar a mente. E acabei de ler um capítulo inteiro sobre morfologia de fitólitos. Tinha que parar e colocar todos esses pensamentos pra fora pra poder voltar a ler/escrever sobre plantas.


terça-feira, 14 de abril de 2015

Problemas de Primeiro Mundo

[Trigger warning]: Senta que lá vem mimimi

Em um ano e meio morando em Exeter eu aprendi:
- a amar essa cidade;
- a tomar chá com leite, mel e limão. É uma delícia gente, juro;
- a tomar 7 pints de cerveja sem ficar bêbada;
- a comer cuzcuz como se fosse farinha de mandioca;
- a reclamar de TUDO. Porque os britânicos europeus amam reclamar e achei que era de bom tom entrar na vibe. Tá nublado? Ai que ódio desse céu cinza e desse frio! Tá ensolarado? Ai que ódio desse céu azul... mentira, eu amo muito dias ensolarados com céu azul, mas eu reclamo de calor quando faz 15 graus;
- aprendi principal e rapidamente a viver com qualidade meaning serviços que funcionam. Logo, toma reclamação quando alguma coisinha não sai como deveria;
******
Pegar ônibus depois das 19h é uma missão. Já fiquei na parada por mais de uma hora e nada. Ok, super comum no Brasil, todos estamos habituados a isso. Descobri que o normal é os ônibus circularem de 15 em 15 minutos até as 19h e depois passam de 1 em 1h dependendo da linha. Como Murphy não brinca em serviço a linha que passa em frente a nossa casa para de circular as 19h. Moramos a 20 minutos de caminhada do centro da cidade. Voltar de lá andando é tranquilo, mas ir a lugares mais distantes dá mais trabalho. Sempre se pode pegar um taxi...

Até as 11 da noite você liga para alguma companhia e o taxi chega o mais rápido possível. Após 11 já passei uma hora tentando contatar qualquer companhia. Eu tinha que pegar o trem à 1:06. Dificilmente trens/ônibus atrasam a saída. Fui andando até o centro onde fica o ponto dos taxistas independentes porque nenhuma companhia atendeu; já fiquei na chuva por 40 minutos esperando o taxi que chegaria em 10...ligando pra companhia e reclamando, claro.
Também já entrei em pubs pra tomar um pint enquanto a chuva passava, pois todos os taxis estavam ocupados. Reclamei? Não, nesse caso foi mais pegue os limões e faça uma limonada versão bêbada.
Um pint
******
Os deliveries funcionam entre 18h e 11h. Exceto pizza, pela minha experiência funciona até 1 da madrugs. Durante o dia alguns restaurantes vendem comida pra levar. Ou seja, você vai buscar sua comida. Comer no restaurante às vezes não é uma opção, pois eles não tem permissão do conselho municipal para servir comida no local. Apenas para vender. Esse problema resolve-se facilmente indo até um supermercado e cozinhando a própria comida. Mas e quando você tem tempo de menos ou preguiça de mais?

****** 
Emergências de hospital: estive uma vez quando comecei a andar de bicicleta na cidade. Fiz confusão no sinal e dobrei para a direita, um carro que vinha do lado oposto bateu no pneu da frente da Julieta (minha bike) e eu caí. Curiosamente era um taxista, quando você não quer eles aparecem. Não fiquei super machucada, mas o motorista fez questão de me levar na emergência pra se certificar que eu estava bem. Tive um atendimento delícia de uma enfermeira super grosseira que mal olhou a minha perna batida e me mandou de volta pra casa. O comentário do taxista? Hospital público é assim mesmo vai no da universidade que é privado amanhã. Um beijo Brasil! E sim, tinham pelo menos 50 pessoas esperando para ser atendidas por uma enfermeira e um médico na emergência as 9 da noite. Contudo, imagino que por mais demorado que seja o atendimento, não deve ser usual pessoas morrerem na fila esperando.  
*****

Uma notícia chocante: os pubs fecham as portas as 11 da noite. Se você já estiver dentro pode ficar até meia noite quando será expulso convidado a se retirar. Alguns tem permissão pra funcionar até as 3 da madrugs. O lance é saber quais. Depois disso vá a clubs ou vá para casa. Em compensação os pubs abrem pela manhã e em geral as pessoas começam a beber por volta das 5 da tarde. 

Exceto se você estiver em Londres. Voltando de um show que acabou com 4 horas de atraso. Perdendo o ônibus de volta por causa do atraso do show, mesmo tendo comprado a passagem para 3 horas depois do show (true story). Na impossibilidade de voltar pra casa você tenta o primeiro pub. Fechado. Depois de 5 tentativas te dizem que no West End os pubs ficam abertos após meia noite. Você anda até lá e descobre que: nah, fechados. Acaba em um club que fecha as 2 e cobra 8 rainhas por um pint. Tentando encontrar um lugar quetinho você é barrada até mesmo num cassino, pois está bêbada. Parenteses: nessa saga toda eu tinha tomado apenas um pint, ficar bêbada com um pint? Jamais! Mas me banharam de cerveja no show, obrigada fãs do Artic Monkeys; Dormi bem destruída numa cadeira metálica na estação de trem Victoria...eu também já dormi no chão da estação de ônibus de Victoria pra vocês verem a vida de glamour que levo na zoropa e como Murphy me ama!

******
Posso resumir tudo em: a vida funciona bem de boas até as 11 da noite, depois disso vá dormir. São pequenos acontecimentos que aborrecem volta e meia, mas que me fazem rir quando percebo o quanto estou sendo ridícula. 

quarta-feira, 8 de abril de 2015

O Home Office

O meu ex-housemate estava se mudando da antiga casa. Não o James, eu mudei de casa durante o verão do ano passado. Fui dividir casa com o pessoal o break. Enfim, ele estava se mudando e doando móveis que não podia levar para a nova casa.
Aceitei um desk, uma penteadeira e um criado mudo. Eu já estava planejando comprar um desk pra fazer um home office. Porque moramos a 10 minutos de bicicleta da uni, mas tem dias que prefiro trabalhar em casa. Quase todos os dias, já que ainda não comecei a trabalhar no laboratório e sempre penso que se for pra ler e escrever posso ficar em casa. E eu sempre leio e escrevo, foi assim que terminei de editar meu livro ano passado, escrevi dois capítulos para outros livros e dois capítulos da tese. Acabo de realizar que sou até bem produtiva em casa. Contudo, ultimamente eu estava trabalhando sentada no sofá ou na cama. Resultando em deliciosas dores na costas.Digressiono.
Semana passada ele veio trazer os móveis. O criado mudo e a penteadeira vierem montados. O deck veio em partes. Sem.o.manual.  E as últimas partes ele trouxe ontem a noite. Hoje logo cedo resolvi encarar a tarefa de montar o quebra-cabeças.
Diria que me saí bem. O Mon Cher só me ajudou no final quando um parafuso se recusava a ficar no lugar. Tava certo ele, pois eu estava desparafusando. Resumindo: tamos aí com um home office lindinho. Adeus dor nas costas!

******
A penteadeira tá fazendo as vezes de bookshelf e bar. Pois eu não tenho, nem quero ter, roupas suficientes pra encher o guarda-roupas, as gavetas da cama e a penteadeira. E sempre posso gastar com livros e álcool o que poupo em roupas XD.
O criado mudo tá guardando minhas bijus, maquiagens e produtos de beleza. Porque sim, louca dos cremes atacou ano passado e tenho mais hidratantes do que corpo pra usar.

******
Em temas não relacionados: eu amo a primavera em Exeter! Tá cheio de margaridas na frente de casa. Os dias estão ensolarados e mais longos. O céu está azul. Eu saio de casa só com um moletom por cima da camisa. Sem morrer de frio. Ouvi um amém?        

sábado, 28 de março de 2015

O Apanhador de sonhos

Eu queria tatuar um apanhador de sonhos há uns bons 10 anos. Proteção contra pesadelos, essas coisas. Ano passado eu finalmente fiz a tatoo. Foi logo depois de um período em que eu tinha pesadelos recorrentes envolvendo meu orientador decepcionado porque eu tinha perdido o deadline pra um essay.
Depois da tatuagem eu parei de ter esses pesadelos. Mais ou menos quando o orientador parou de me pedir essays quinzenais. Sabe quando você acorda de um sonho ruim com uma sensação aterrorizante mesmo sem lembrar de nada? Eu tive um desses, mesmo com o apanhador de sonhos tatuado na costela.

*****

Em compensação, o elemento novo nas nossas vidas é o sleep-talking. Duvido que evolua para sleep-walking porque em todos os estados de consciência eu não gosto de frio. Voltando ao sleep-talking.
Alexandre acorda no meio da noite. Estou sentada na cama explicando a diferença entre angiospermas e gminospermas. Do meu jeitinho:

- Você sabia que as angiospermas dependem de elementos externos pra se reproduzir? Por exemplo pássaros, eles comem o fruto e depois excretam (eu não usei exatamente esse termo) as sementes.
Alexandre: que?
- As gminospermas soltam polen.
Eu nem sabia conscientemente explicar tão 'bem' a diferença entre essas plantas. O que foi resolvido por motivos de doutorado em arqueobotânica.

Outra noite ele acordou e eu estava sentada na cama olhando pra ele com cara de demente...duas semanas depois eu briguei com ele porque estava rindo de mim (ele não estava).
Em todos esses episódios eu estava dormindo. Lembro de nada. Sei que é verdade porque uns dez anos atrás quando eu morava com minha avó, volta e meia ela me encontrava batendo altos papos com a cortina da sala na madrugada boladona.


*****

Com isso aprendemos que:
os apanhadores de sonhos não são 100% eficientes. Em outras palavras, eles protegem de pesadelos não de maluquices Daianices prévias.